Como salvar o buxo?

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Como salvar o buxo?

O buxo é uma espécie de arbustos muito comum em Portugal e que embeleza jardins por todo o país, com especial destaque para alguns dos mais importantes jardins históricos portugueses como o Jardim Botânico da Ajuda em Lisboa, os Jardins do Solar de Mateus em Vila Real, os Jardins da Quinta Nova da Assunção em Belas ou os Jardins da Quinta da Ínsua em Penalva do Castelo.

Elemento essencial da arte topiária

Na verdade, o buxo é um dos principais elementos da topiária, uma arte milenar em que os arbustos ou árvores são moldados em formas mais ou menos elaboradas através de podas cuidadosamente planeadas.

Infelizmente, o buxo tem vindo a sofrer o ataque de uma praga devastadora, chamada traça-do-buxo (Cydalima perspectalis) oriunda da Ásia, colocando em risco não só a espécie como também os magníficos exemplos da topiária nacional, que são uma das maiores riquezas do paisagismo no nosso país e que, como tal, têm de ser protegidos.
Com este artigo, pretendo chamar a atenção para este grave problema e apresentar ideias para lidar com ele, de modo a salvar esta espécie tão importante.

O que é a traça-do-buxo?

A traça-do-buxo é uma lagarta, num estado imaturo da espécie, oriunda da China que, em 2006, foi introduzida de forma acidental na Alemanha.
Esta praga expandiu-se rapidamente pela Europa Central, Países Baixos, França, Croácia, Turquia, Itália e Espanha pois não encontrou inimigos naturais que a pudessem conter.
A praga em Portugal
Esta praga chegou a Portugal em 2016, tendo sido detetada em Caminha, em Viana do Castelo e em Vila Nova da Cerveira. No ano seguinte, foi identificada em Ponte de Lima e em Santo Tirso. No final de 2018 atingiu a zona de Sintra.
Características da traça-do-buxo
Esta espécie apresenta um ciclo biológico de 45 dias, sendo que a primeira geração surge em maio.
Cada fêmea chega a colocar 800 ovos de cor amarela-clara, em diferentes posturas de até 20, na página inferior das folhas.
Passados dois a três dias, eclodem larvas amarelo-esverdeadas, com cerca de 1,5 milímetros e uma cabeça preta. Estas pequenas larvas alimentam-se no interior das folhas do buxo, causando graves danos ao arbusto.
As larvas vão-se desenvolvendo até chegarem aos 40 milímetros quando atingem o estado de pupação de modo a realizarem a metamorfose. As crisálidas têm cerca de 20 milímetros de comprimento e apresentam uma cor verde-clara que depois se transforma em castanho.
Em julho, ocorre o aparecimento da segunda geração e a terceira, surge, por norma, em setembro, havendo a possibilidade de uma quarta geração em outubro. Em seguida, as larvas entram numa espécie de hibernação, denominada diapausa, para voltarem a estar ativas na passagem do inverno para a primavera, retomando o ciclo.

Identificar os sintomas
Uma vez que ao início as larvas são de pequeníssimas dimensões, não é fácil observá-las. Como tal, é importante que estejamos atentos a determinados sinais, sendo a mudança do tom verde das folhas para castanho um dos mais significativos. Se numa primeira fase os danos costumam ser no interior das sebes, na zona junto ao solo, com a intensificação do ataque, o tom acastanhado poderá estender-se a todo o arbusto.
Convém verificar a existência de fios de seda esbranquiçado a unirem diferentes folhas pois tal implica a presença de larvas, que os usam para o processo de pupação. Esteja também atento à presença de folhas roídas e de pequenos excrementos castanho-claros.
Infelizmente esta praga é tão devastadora que conduz à morte das plantas, descaracterizando inúmeros jardins europeus, onde as estruturas de buxo têm um papel de destaque, conduzindo a uma enorme perda do seu valor ornamental e histórico.
O que podemos fazer para salvar o buxo?
A melhor estratégia de combate passa pelo recurso a soluções biológicas que protejam esta espécie incontornável da paisagem europeia e que atuem nas diferentes fases de desenvolvimento desta praga.
Entre abril e novembro é possível combater os insetos adultos através da instalação de armadilhas com determinadas feromonas; além disso, há que controlar a postura dos ovos através da libertação de um inseto parasitoide oófago, uma vespa do género Trichogramma spp.
No que toca ao controlo das lagartas aconselhamos a pulverização com o nemátodo entomopatógeno Steinernema spp, pois ainda não existem no mercado inseticidas homologados específicos para a traça-do-buxo.

Espero que este artigo sirva para alertar particulares e instituições para o combate urgente a esta praga, de modo a protegermos e a salvarmos uma espécie fundamental na paisagem e jardins portugueses.

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por: Karine Moreau

Karine Moreau é uma arquiteta paisagista luso-francesa que, depois de se ter formado numa das melhores escolas da especialidade em França, estabeleceu-se em Portugal, mais precisamente em Sintra, para desenvolver a sua atividade profissional. Apaixonada pela natureza, pelo paisagismo e pelo urbanismo, coloca todo o seu profissionalismo e paixão ao serviço dos seus clientes – sejam particulares, empresas ou entidades públicas – por forma a criar espaços verdes que contribuem para uma melhor qualidade de vida.