Francisco Caldeira Cabral

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Francisco Caldeira Cabral

Os primeiros arquitetos paisagistas em Portugal – Francisco Caldeira Cabral

Ainda que a arquitetura paisagista continue a ser uma atividade pouco conhecida em Portugal, já é exercida no nosso país desde os anos 40 do século passado.

Porém, antes de prosseguir, gostaria de esclarecer que este texto se refere ao Paisagismo pós Revolução Industrial, virado para o Urbanismo e para o bem estar dos cidadãos em geral e não ao Paisagismo existente desde a Antiguidade que se focava nos jardins reais, nobres e religiosos.

Os arquitetos paisagistas contemporâneos

Em jeito de homenagem aos primeiros arquitetos paisagistas em Portugal, irei escrever dois artigos sobre os dois nomes mais importantes dos primórdios da arquitetura paisagista em Portugal: Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles.

Neste artigo abordo a vida e obra do primeiro e, no próximo, irei falar do segundo.

Francisco Caldeira Cabral, um os primeiros arquitetos paisagistas em Portugal

Pioneiro da arquitetura paisagista no nosso país, Francisco Caldeira Cabral introduziu em Portugal uma nova perspectiva na relação entre urbanismo e a natureza, trazendo as preocupações ambientais para a equação. No fundo, foi dos primeiros a seguir um dos principios basilares do paisagismo “há que observar o terreno e o local onde a obra está inserida, por forma a adequá-la à paisagem, sem a impor”.

Francisco Caldeira Cabral

Considerado o pai do ensino da arquitetura paisagista no nosso país, nasceu a 26 de Outubro de 1908, em Lisboa, sendo visto como uma referência não só a nível nacional como também internacional.

Culto e ambientalista convicto, o mestre Caldeira Cabral foi, sem qualquer dúvida, um visionário que procurava o equilíbrio entre o Homem e a Natureza.

Percurso académico

Começou o seu percurso escolar em Sintra, no Colégio Vasco da Gama, passando depois para o Colégio dos Jesuítas de La Guardia, na Galiza, onde terminou o liceu em 1925.

A sua primeira escolha académica foi Química, na Universidade Técnica de Berlim-Charlottenburg, Alemanha, tendo depois pedido transferência para Engenharia Eletrotécnica.

O regresso a Portugal

Por questões de saúde, nomeadamente uma pneumonia, é obrigado a regressar a Portugal, onde, em 1931, acaba por ingressar em Agronomia no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

Após concluir o curso em 1936 regressa a Berlim como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, tendo ingressado no Curso de Arquitetura Paisagista na Universidade de Friedrich-Wilhelm, onde obteve o Diplom Gartner em 1939.

A carreira docente

Em 1940, deu inicio à sua brilhante carreira de docente, lecionando as cadeiras de Desenho Organográfico e de Construções Rurais no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

Em 1941, inicia o Curso Experimental de Arquitetura Paisagista no Instituto Superior de Agronomia, que viria a receber o estatuto de Curso Livre por parte do Ministério da Educação Nacional, em 1942.

Professor Convidado

Enquanto Professor Convidado, leccionou em diversas universidades estrangeiras entre 1979 e 1986, nomeadamente, a Universidade de Hanover, a Universidade de Berkeley, a Universidade da Geórgia, a Universidade de Newcastle, na Universidade de Michigan, na Escuela Superior de Arquitectura de Madrid, na Escuela Superior de Ingenieros de Montes, na Universidade da Pensilvânia e no Instituto Agronomico Mediterraneo.

Em Portugal, foi Professor Catedrático na Universidade de Évora de 1979 a 1986.

Outros cargos

Foi Presidente da Associação Internacional dos Arquitetos Paisagistas, bem como fundador e segundo Presidente da Liga para a Proteção da Natureza.

Prémios e Homenagens

Em 1965 recebe o prémio Fritz Schumaker para o Ordenamento da Paisagem.

Foram-lhe atribuídas as condecorações de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública (1982) e da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1989).

Em sua honra foi criado o Centro de Estudos de Arquitetura Paisagista – Prof. Francisco Caldeira Cabral, em 2002.

Para celebrar o centenário do seu nascimento, em 2008, foi dado o seu nome a um jardim em Telheiras e a um Parque em Algés.

Obras Emblemáticas

Na sua longa carreira, Francisco Caldeira Cabral criou e interveio em diversos projetos emblemáticos como por exemplo:

  • Santa Catarina Park, Funchal, Madeira
  • Avenida do Mar, Funchal, Madeira
  • Casa e jardins da Quinta das Vidigueiras, em Reguengos de Monsaraz
  • Planeamento e jardins da Quinta Patino, Alcoitão (Estoril)
  • Jardins da Quinta de Riba-Fria, Sintra
  • “Jardim de Portugal”, Parque Planten und Blumen, Hamburgo ( Alemanha)
  • “Jardim de Portugal”, Tóquio
  • Jardins da Quinta das Lágrimas, Coimbra
  • Ampliação do Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha
  • Fundação Calouste Gulbenkian
  • Estádio Municipal de Braga
  • Intervenções no Alto Douro Vinhateiro

Estádio Nacional do Jamor

Contudo, o projeto mais emblemático é, porventura, o Estádio Nacional do Jamor, por ter sido a primeira construção a seguir os princípios da arquitetura paisagista no nosso país.

Ao rejeitar a ideia de construir o estádio no Vale do Jamor para não interferir no curso do rio, Francisco Caldeira Cabral fez com que o estádio fosse construído na encosta, preservando o estado natural do rio.

Para mim é um prazer escrever sobre os primeiros arquitetos paisagistas em Portugal, prestando homenagem a personalidades que admiro e que me inspiram.

Espero que tenham gostado de ficar a conhecer um pouco mais sobre a vida e obra de Francisco Caldeira Cabral e se precisarem de ajuda na realização de um projeto que se integre na paisagem sem se impor, contactem-me.

por: Karine Moreau

Karine Moreau é uma arquiteta paisagista luso-francesa que, depois de se ter formado numa das melhores escolas da especialidade em França, estabeleceu-se em Portugal, mais precisamente em Sintra, para desenvolver a sua atividade profissional. Apaixonada pela natureza, pelo paisagismo e pelo urbanismo, coloca todo o seu profissionalismo e paixão ao serviço dos seus clientes – sejam particulares, empresas ou entidades públicas – por forma a criar espaços verdes que contribuem para uma melhor qualidade de vida.